Vivemos tempos em que a palavra ansiedade aparece em todos os cantos: nas conversas, nas redes sociais, nos consultórios. E, muitas vezes, aparece com um peso — como algo a ser eliminado, corrigido, silenciado. Mas será que a ansiedade é sempre um problema? Ou será que ela também pode ser um sinal?
Na prática clínica, é comum encontrar pessoas que carregam a angústia de “sentir demais” como se isso fosse um defeito pessoal. O coração acelera, o sono escapa, o pensamento gira em círculos… e logo surge o julgamento: “eu sou ansiosa demais”, “isso é fraqueza”, “preciso parar com isso”. Mas o que esquecemos, muitas vezes, é que a ansiedade é uma resposta natural do nosso corpo — uma forma de nos proteger, de antecipar riscos, de garantir sobrevivência.
O problema começa quando essa resposta se torna constante, desproporcional ou desadaptativa. Mas mesmo nesse sofrimento, há algo a escutar. A ansiedade fala sobre medos, sobre o desejo de controlar o incerto, sobre histórias que moldaram nossa forma de existir no mundo.
Parte do nosso trabalho na clínica é justamente ajudar a pessoa a identificar o que antecede esse estado ansioso. O que está acontecendo no ambiente? Quais são os gatilhos, explícitos ou sutis, que disparam essa resposta? Muitas vezes, os episódios de ansiedade parecem “sem motivo”, mas com uma escuta cuidadosa — baseada na análise individual — é possível mapear padrões, antecipadores e consequências.
Essa identificação abre possibilidades. Em alguns casos, é possível modificar o ambiente, ajustar expectativas, criar repertórios novos. Em outros, é necessário fortalecer habilidades de enfrentamento e aceitação. Dentre as diversas possibilidades, a aplicação no dia-a-dia vai depender de cada caso, demandando da elaboração conjunta de um plano de ação.
Se você sente que a ansiedade está tomando espaço demais, talvez seja o momento de escutá-la. E, quem sabe, fazer dessa escuta o início de um novo modo de se relacionar com você.
“Sentimentos não são certos nem errados; sentimentos simplesmente são.”